Para compreender melhor o que a Igreja atesta em seus documentos e saber em que ela se fundamenta para falar de questões morais da humanidade como o aborto é preciso relembrar a regra de ouro como ponto de partida: “Tudo aquilo, portanto, que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles’’ (cf. Mt 7,12).
O aborto para Schooyans (prof. da Universidade Católica de São Paulo), não é uma falta entre outras ao respeito devido à vida humana, mas que, por causa da fraqueza extrema da vítima, é um “crime abominável”. O respeito à vida humana é necessário na definição da identidade cristã, por isso, “a vida humana deve ser respeitada e protegida de maneira absoluta a partir do momento da sua concepção. Desde o primeiro momento de sua existência, o ser humano deve ser reconhecido os seus direitos de pessoa, entre os quais o direito inviolável de todo ser inocente à vida” (cf. CCE-2270). Quando o indivíduo observa este valor ele se depara com a moral cristã, ao passo que reconhecer o respeito à vida é a condição para entrar nessa moral.
Na medida em que os cristãos se abrem para discussões que tocam a moral da humanidade, eles jamais podem ser conduzidos pelos costumes deturpados da atualidade. Pois se assim fosse estaria negando a Tradição da Igreja e o próprio Evangelho de Cristo.
O que a Igreja faz é perdoar os pecados (cf. Jo 20, 23), mas nem por isso os autoriza. Contudo, o que se discute é a transgressão da moral natural e da Lei Divina: chamando bem aquilo que é mal. Desta forma, o homem não consegue enxergar a sua falta. E, assim, ele se fecha à Salvação que Deus lhe oferece, a qual lhe é dada mediante um profundo arrependimento seguido de uma boa confissão.
Todavia, não é porque houve o perdão dos pecados que se pode cometer outros. Muitas pessoas pensando que são “livres’’ ou que não tenham dever moral apoiam a contracepção. Esta, com efeito, tem por objetivo simplesmente prevenir “eficazmente” a gravidez. Desta maneira, a contracepção artificial desvia a sexualidade de um dos seus fins essenciais que é a propagação da vida humana. Entretanto, a Igreja, ao mesmo tempo, encoraja os cristãos a crescerem, com a graça divina na prática da sua liberdade e responsabilidade. Assim, a sexualidade, liberdade e responsabilidade são englobadas numa visão integral do homem.
Diante disso tudo se percebe que a Igreja mantém firme os seus propósitos sobre as questões éticas e não segue o “modismo” de determinado tempo porque ela é um paradigma, ou seja, um modelo a ser seguido. Se fosse o inverso não precisaria que ninguém se convertesse aos seus ensinamentos. A Igreja continua e continuará lutando pelo respeito à vida humana, mesmo quando o Supremo Tribunal Federal diz ser legal abortar. Ela segue seu princípio: “nem tudo que é legal é moral”.
Fonte: Joacir Soares d’Abadia*